Gil Vicente x Bertold Brecht (dramaturgos)
Resumo: Análise da dramaturgia em contextos históricos diversos
como base didática e de conscientização popular, focando no trabalho dos
dramaturgos Gil Vicente (Portugal) e Bertold Brecht (Alemanha), em específico
as obras O Auto da Barca do Inferno e Mãe Coragem e Seus Filhos,
respectivamente, através das quais se pode observar elementos e semelhanças de
grande expressão para concretização destes objetivos, de forma a chamar atenção
pela eficiência no emprego destas manifestações.
Palavras-chave: Dramaturgia; contexto cultural, social, histórico e
político ; épocas ; teatro; tipos sociais; ideias; conscientização; símbolos;
Artigo: Apresentaremos um paralelo entre as obras de dois
importantes dramaturgos, o português Gil Vicente e o alemão Bertold Brecht , de
épocas e contextos culturais bastante diferentes, porém com características
peculiarmente semelhantes. Ambos possuíam em suas obras a principal
característica de produzir um teatro sócio-político, embasado em ideias,
alegorias e realismo, da mesma forma que encaravam a dramaturgia também como
uma forma de doutrinar, de ensinar/evidenciar à suas respectivas sociedades, os
valores de cada época (ou a falta destes). Selecionamos para ilustrar a análise de suas peças,
"O Auto da Barca do Inferno" (Vicente), produzido em meados do século XVI, na
transição da Idade Média para o Renascimento, e "Mãe Coragem e Seus
Filhos" (Brecht), escrita em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial,
duas obras de grande representatividade para seus autores.
Primeiramente, ao averiguarmos os
contextos sócio-históricos destas épocas, chegaremos à outras semelhanças, como
a inversão de valores e uma sociedade alienada à determinadas ideologias.
Comecemos por Gil Vicente: A Europa passava por uma grande mudança com o fim da
Idade Média e início do Renascimento, Gil Vicente, por sua vez, se via ligado à
muitos conceitos da era anterior, contudo seu teatro era de uma certa forma
revolucionário, misturava o profano com o sagrado, elaborando um tipo de teatro
de pregação, onde seus personagens caracterizavam tipos sociais específicos, muito
bem marcados através de alegorias, esses personagens simbolizavam uma parte da sociedade, sem especificar ou atacar instituições, mas a
verossimilhança estava presente com o intuito de instaurar um identificação com
o espectador. Em "O Auto da Barca do Inferno", há um julgamento no
qual os que não tivessem pecados poderiam seguir na barca da glória, guiada
pelo Anjo, enquanto os pecadores seguiriam na barca no inferno, guiada pelo
Diabo, a grande maioria dos personagens vão direto para a barca do inferno, com
exceção do Parvo e dos quatro cavaleiros, que por sua inocência e coragem,
seguem para a barca da glória, pois mesmo que os demais personagens em vida
possuíssem dinheiro, status ou posição, estavam sendo julgados por suas
atitudes mundanas. Há uma clara alusão aos sete pecados capitais e um intuito
de exemplificar aos espectadores o que não fazer, assim como o conceito de que
apenas uma vida de virtudes poderia levar as almas ao paraíso, por isso a
dramaturgia, mesmo que alegórica, era realista para que houvesse um
conscientização real .
Da mesma forma que Gil Vicente,
Bertold Brecht também é contemporâneo a uma época de reestruturação cultural, o
auge do regime Nazifascista, viveu exilado de seu país, a Alemanha, de 1933 a
1949, este foi um período turbulento e tenebroso para toda a Europa, onde
homens se alienavam ao pensamento megalomaníaco e autoritário do regime
anti-semitista. É nesse contexto que Brecht, influenciado pelos ideais
marxistas, fez de sua dramaturgia uma meio de conscientização da realidade, da
mesma forma que as técnicas teatrais desenvolvidas por ele, como o artifício do distanciamento, que visava denunciar a alienação do
espectador, consistia na quebra da quarta parede teatral, esta
quebra é como se fosse uma breve fuga de um ou mais personagens do ambiente da
peça, para se dirigir direto ao espectador, o que causa um estranhamento que
pode ser muito positivo por causar impacto e chamar atenção às questões
constantemente abordadas por Brecht, como a miséria, a luta de classes e a
importância de todas as camadas da sociedade. Na peça "Mãe Coragem e Seus
Filhos", é narrada a história de uma vivandeira que junto aos seus três
filhos percorre os locais devastados pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
para vender suprimentos aos sobreviventes, contudo mesmo sobrevivendo às custas
das desgraças da guerra, a mãe, tentando poupar seus filhos, não admite que lutem e sirvam à sua pátria, mesmo
com sua relutância, seus três filhos acabam sucumbindo e morrem vítimas da
guerra, então a mãe se vê sozinha lutando por sua sobrevivência, sem seus
filhos, somente ela e a carroça de alimentos. A peça retrata a incoerência da
personagem da mãe, que conhece bem os horrores da guerra, porém mantêm seus
filhos alheios a esta realidade a fim de protegê-los, através desta contradição
Brecht visava causar indignação nos espectadores e um consequente senso
crítico, diferente do que era pautado pelo regime da época.
Por fim, podemos concluir que
tanto o teatro brechtiniano quanto o vicentino possuem finalidade didática,
de disseminar ideias e conscientizar os espectadores sobre questões políticas e
sociais, ambos os dramaturgos utilizam de símbolos e frases de impacto que
possibilitam uma assimilação sensorial por parte do público, por meio das figuras
de linguagem, das técnicas teatrais ou até mesmo da dispersão e da função dos
personagens que, em cena, tomam dimensões inimagináveis. Outro aspecto que
chama a atenção é como a dramaturgia destes autores é objetiva e eficaz, pois,
sem muitas delongas, chega ao objetivo proposto e causa impactos pertinentes à
produção, é interessante observarmos que a grande maioria das encenações das
peças citadas não necessitaram de muito cenário, claro que há uma variação
muito grande dependendo da direção, mas os textos possuem uma forte
significância através das simbologias, sendo elas imagéticas ou lexicais, que
criam contextos autossuficientes, produzindo diversidade de encenações e de
elementos dramáticos.
Referências bibliográficas:
BRECHT,
Bertold (2012) Teatro Completo de Bertold Brecht , Ed. Paz e Terra;
VICENTE,
Gil (2013) Auto da Barca do Inferno, Ed. Saraiva;
Meninas, a professora Joana está dando uma aula está mostrando o blog de vcs como base. Parabéns!
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