quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Planos de Aula - Morfossintaxe



Proposta de Atividade: O estudo de MALP (Morfossintaxe Aplicada a Língua Portuguesa) tem como principal objetivo desenvolver a capacidade de descrição e explicação de formasimultânea tanto a estrutura quanto o funcionamento da língua. Para que isso aconteça, tornam-se necessárias a descrição e a prática de uso dos processos morfossintáticos, assim como o desenvolvimento da capacidade de reflexão crítica sobre conceitos tradicionais e modernos, para assim propiciar melhoria tanto na análise quanto na produção de textos escritos.


Plano de Aula Elaborado por:
Ariane Fermino e Silva – RA B 77530-0
Camila Santana Silva – RA B 7503F-6
Carolina Lagarin Alípio – RA B 7241J-3
Jéssika Primo - RA B7521G-2
Polyanna Sato – RA B 7008B-2

Letras - 4º Semestre - Noturno

Matéria – Mosfossintaxe
Tempo de Aula: 2 horas e meia / Aula
Objetivo Geral: Apresentar aos alunos a relevância das reflexões sobre a linguagem, na perspectiva da Morfossintaxe e importância do estudo e analise da língua para ensino e aprendizagem da língua materna.
Material Utilizado: Lousa
Bibliografias:

Divisão da Matéria: Funções Sintáticas de uma oração simples – Metodologia Sautchuk

1º 30 minutos:

Sujeito
- O sujeito estabelece uma relação de concordância com o verbo.
Exemplos: João bebeu café / João e Marcos beberam café.
- Seguindo dois passos simples encontramos o sujeito na oração, o mesmo pode ser substituído por pronomes pessoais como “eu”, “tu”, “ele”, etc.
Passo 1 – Transforme a oração em uma interrogativa.
Ex: João bebeu café?
Passo 2 – Identifique quais pronomes pessoais conseguimos colocar na resposta.
Ex: Sim, ele bebeu.
O pronome “ele” está no lugar de “João”, logo João é o sujeito da oração.

Objeto Direto

- É um complemento obrigatório do verbo.
Exemplo: João falou inglês.
O verbo “falar” neste exemplo pressupõe que “alguém que fale” e “o que é falado”.
- Seguindo dois passos simples encontramos o objeto direto na oração, o mesmo pode ser substituído por pronomes oblíquos como “o” e “a” ou demonstrativo “isso”.
Passo 1 – Transforme a oração em uma interrogativa.
Ex: João falou inglês?
Passo 2 – Identifique quais pronomes que conseguimos colocar na resposta.
Ex: Sim, ele falou isso.
O pronome “ele” está no lugar de “João”, logo João é o sujeito da oração.
O pronome “isso” está no lugar de “inglês”, logo inglês é o objeto direto da oração.

Objeto Indireto

- É um complemento obrigatório do verbo.
Exemplo: João enviou flores à namorada.
O verbo “enviar” neste exemplo pressupõe que “alguém envie”, “o que é enviado” e “para quem é enviado”.
 - Seguindo dois passos simples encontramos o objeto indireto na oração, o mesmo pode ser substituído pelo pronome oblíquo “lhe” e os pronomes pessoais “ele / ela”.
Passo 1 – Transforme a oração em uma interrogativa.
Ex: João enviou flores à namorada?
Passo 2 – Identifique quais pronomes que conseguimos colocar na resposta.
Ex: Sim, ele enviou-lhe isso.
O pronome “ele” está no lugar de “João”, logo João é o sujeito da oração.
O pronome “isso” está no lugar de “flores”, logo flores é o objeto direto da oração.
O pronome “lhe” está no lugar de “à namorada”, logo à namorada é o objeto indireto.

2º 30 minutos:

Predicativo do Sujeito

- Modifica (predica) o sujeito.
- Aparece em frases em que o núcleo (verbo) é um verbo de ligação.
- Usaremos os dois passos da metodologia:
Passo 1 – Transformar a frase em uma interrogativa.
Passo 2 – Encontrar nas respostas as funções sintáticas da oração.
Exemplo: João é bonito.
Passo 1: João é bonito?
Passo 2: Sim, ele é bonito.
O pronome “ele” está no lugar de “João”, logo João é o sujeito da oração e “bonito” é o Adjetivo que modifica o sujeito, logo bonito é um predicativo do sujeito nesta oração.

Predicativo do Objeto

- Modifica (predica) o objeto.
- Aparece em frases em que o núcleo (verbo) é um verbo de ligação.
- Usaremos os dois passos da metodologia:
Passo 1 – Transformar a frase em uma interrogativa.
Passo 2 – Encontrar nas respostas as funções sintáticas da oração.
Exemplo: A mãe encontrou a menina triste.
Passo 1: A mãe encontrou a menina triste?
Passo 2: Sim, ela a encontrou triste.
O pronome “ela” está no lugar de “mãe”, logo mãe é o sujeito da oração, “a” esta no lugar de “menina”, logo menina é o objeto direto da oração e “triste” é o Adjetivo que modifica o objeto direto, logo triste é um predicativo do objeto nesta oração.

Adjunto Adverbial

- É um complemento não obrigatório do verbo na oração.
- Usaremos os dois passos da metodologia:
Passo 1 – Transformar a frase em uma interrogativa.
Passo 2 – Encontrar nas respostas as funções sintáticas da oração.
Exemplo: João falou inglês na Itália.
Passo 1: O João falou inglês na Itália?
Passo 2: Sim, ele falou isso.
O verbo “falar” neste exemplo pressupõe que “alguém que fale” e “o que é falado”, o pronome “ele” está no lugar de “João”, logo João é o sujeito da oração, “isso” esta no lugar de “inglês“, logo inglês é o objeto direto da oração e o termo “na Itália”, onde foi falado, não é obrigatório na oração, logo na Itália é um adjunto adverbial.

Adjunto Adnominal

- É um complemento não obrigatório na oração.
- Acompanha o sujeito da oração.
- Usaremos os dois passos da metodologia:
Passo 1 – Transformar a frase em uma interrogativa.
Passo 2 – Encontrar nas respostas as funções sintáticas da oração.
Exemplo: A menina bonita veio hoje.
Passo 1: A menina bonita veio hoje?
Passo 2: Sim, ela veio.
O verbo “vir” neste exemplo pressupõe que “alguém venha” e “o lugar do qual ela vem”, o pronome “ela” está no lugar de “menina”, logo menina é o sujeito da oração, o termo “hoje”, que indica quando veio, não é obrigatório na oração, logo hoje é um adjunto adverbial e o termo “bonita” que acompanha o sujeito na oração, não obrigatório, é o adjunto adnominal.

Complemento Nominal

- É um complemento obrigatório na oração.
- Em geral, acompanha o sujeito.
- Usaremos os dois passos da metodologia:
Passo 1 – Transformar a frase em uma interrogativa.
Passo 2 – Encontrar nas respostas as funções sintáticas da oração.
Exemplo: A cura da AIDS revolucionará a medicina.
Passo 1: A cura da AIDS revolucionará a medicina?
Passo 2: Sim, ela revolucionará isso.
O verbo “revolucionar” neste exemplo pressupõe que “algo que revoluciona” e “o que é revolucionado”, o pronome “ela” está no lugar de “a cura”, logo cura é o sujeito da oração, “isso” esta no lugar de “a medicina“, logo a medicina é o objeto direto da oração, o termo “da AIDS”, que indica do que se trata a “cura” é obrigatório para sentido da oração, logo da AIDS é complemento nominal.


Divisão da Matéria: Tipos de Orações e a Força Ilocucionária – Metodologia Perini



3º 30 minutos:

Tipos de Orações

·         Interrogativas – Na escrita usa-se o ponto de interrogação, na fala tem-se a entonação ascendente.
·         Imperativas – Frases com verbos no imperativo. Ex. Faça / veja / feche / abra / etc.
·         Exclamativas – Na escrita usa-se o ponto de exclamação, na fala tem-se a entonação de surpresa, alegria, etc.
·         Declarativas – Ausência de qualquer marca de pontuação. Pode ser uma declaração, afirmação, enunciado.
·         Optativas – Verbos no subjuntivo. Ex. Se eu fizesse / Quando eu fizer / etc.

Força Ilocucionária

A força Ilocucionária é diferente dos tipos de orações, trata-se de um ato de fala, sua intenção vai depender do contexto. Tipos de forças Ilocucionárias: pedido / ordem / promessa / pergunta / entre outros.

Ex. Você poderia me emprestar uma caneta?
Tipo de Oração: Interrogativa
Força Ilocucionária: Pedido


Papeis Temáticos e Funções Sintáticas – Metodologia Perini

As funções sintáticas já foram apresentadas, são elas: Sujeito, Objeto direto, Objeto Indireto, Predicativo do Sujeito, Predicativo do Objeto, Adjunto adverbial, Adjunto Adnominal e Complemento Nominal.
Os papeis temáticos seriam as funções semânticas dos sintagmas nas sentenças. Tipos de papeis temáticos:

Agente

- É o que faz a ação.
- Ligados a verbos com ação.
- Tem de ser animado (com alma).

Ex. O homem sorriu.
Passo1 – O homem sorriu?
Passo 2 – Sim, ele sorriu.
“O homem” é o sujeito da oração (função sintática) e também o agente (papel temático), pois ele faz a ação de sorrir.

Paciente

- O que sofre a ação.
- Ligados a verbos com ação em seu campo semântico.

Ex. O homem secou o rio.
Passo1 – O homem secou o rio?
Passo 2 – Sim, ele secou-o.
“O homem” é o sujeito da oração (função sintática) e também o agente (papel temático), pois ele faz a ação de secar, “rio” é o objeto direto da oração (função sintática) e também o paciente (papel temático), pois ele recebe a ação de ser seco pelo homem.

Instrumento

- Usado para se fazer uma ação.

Ex. O macaco quebrou o coco com uma pedra.
Passo1 – O macaco quebrou o coco com uma pedra?
Passo 2 – Sim, ele quebrou-o.
“O macaco” é o sujeito da oração (função sintática) e também o agente (papel temático), pois ele faz a ação de quebrar, “o coco” é o objeto direto da oração (função sintática) e também o paciente (papel temático), pois ele recebe a ação de ser quebrado pelo macaco, “com uma pedra” é o adjunto adverbial (função sintática) e também o instrumento (papel temático) utilizado para efetuar a ação.

Fonte

- Indica a origem (de onde vem).

Ex. O homem saiu da cadeia.
Passo1 – O homem saiu da cadeia?
Passo 2 – Sim, ele saiu dela.
“O homem” é o sujeito da oração (função sintática) e também o agente (papel temático), pois ele faz a ação de sair, “cadeia” é o objeto indireto da oração (função sintática) e também a fonte (papel temático), pois se refere ao lugar de onde o agente vem.
                                                  
Meta

- Indica o objetivo, alvo, destino, meta (para onde vou).

Ex. O homem viajou para Fortaleza.
Passo1 – O homem viajou para Fortaleza?
Passo 2 – Sim, ele viajou para lá.
“O homem” é o sujeito da oração (função sintática) e também o agente (papel temático), pois ele faz a ação de viajar, “para Fortaleza” é o objeto indireto da oração (função sintática) e também a meta (papel temático), pois se refere ao lugar para onde o agente vai.

Importante: Em uma oração, cada sintagma assume um papel temático diferente, a não ser que estas estejam coordenadas (em frases diferentes).




4º 30 minutos:

Regras para atribuição de papel temático na voz ativa
1.      O objeto direto se interpreta sempre como paciente.
2.      O adjunto adverbial, que começa com “com” se interpreta como instrumento.
3.      O sujeito se interpreta como agente, instrumento ou paciente.
Regras para atribuição de papel temático na voz passiva
1.      O agente da passiva que inicia com “por” e “pelo” se atribui o papel temático de agente.
2.      Não é necessário encontrar um agente na oração. Se não existir na sentença, assuma que há um agente não-especificado.
3.      O sujeito se interpreta como paciente.

Ex. Um pastel foi comido pelo Marcos.
Passo1 – Um pastel foi comido pelo Marcos?
Passo 2 – Sim, ele foi comido.

“Foi comido” são o verbo auxiliar + verbo (voz passiva), “um pastel” é o sujeito da oração (função sintática) e também o paciente (papel temático), pois ele sofre a ação, “pelo Marcos” é o agente da passiva (função sintática) e também o agente da oração (papel temático).


Divisão da Matéria: Período Composto (Subordinação) - Sautchuk (2010) e Silva e Koch (2011)


     5° 30 minutos:


Diferença entre frase e oração:

- Frase: Qualquer tipo de comunicado. Ex.: (1) Tchau! (2) A Geovana derrubou o forno. (Pode ter verbo ou não)

- Oração: Funciona com o verbo. Ex.: A Geovana derrubou o forno.

Período é a frase organizada em oração ou orações, podem consistir em período simples (contem apenas uma oração) ou composto (contem mais de uma oração).

Ex.:
Oração em período simples: A Geovana derrubou o forno.
Oração em período composto: A Dona Maria sabe que a Geovana derrubou o forno.

Na frase: "A Dona Maria sabe que a Geovana derrubou o forno", a oração destacada funciona como uma subordinada à oração principal, pois possui uma dependência sintática da mesma. As orações subordinadas podem ser completivas, também conhecidas na Gramática Normativa como substantivas, elas recebem essa nomenclatura, pois a oração secundária funciona um complemento da principal e, no caso das substantivas, possuem como núcleo um substantivo. As orações completiva/substantivas podem ser ainda:

1)     Subjetivas: na qual a oração subordinada desempenha a função de Sujeito.
Ex.: Que eu faça comida é importante.
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada substantiva subjetiva;

2)     Objetiva Direta: na qual a oração subordinada desempenha a função de Objeto Direto.
Ex.: A Dona Maria sabe que a Geovana derrubou o forno
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada substantiva objetiva direta;

3)     Objetiva Indireta: na qual a oração subordinada desempenha a função de Objeto Direto.
Ex.: Geovana precisa de que sua mãe a perdoe
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada substantiva objetiva indireta;

4)  Predicativa do Sujeito: na qual a oração subordinada desempenha a função de Predicativo do Sujeito.
Ex.: Luciana é que era valente
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada substantiva predicativa do sujeito;

5) Completiva Nominal: na qual a oração subordinada desempenha a função de Complemento Nominal (complemento obrigatório do sujeito, semanticamente falando)
Ex.: A possibilidade de que os EUA invadam o Iraque é uma realidade.
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada substantiva completiva nominal.

6)      Apostiva: na qual a oração subordinada desempenha a função de Aposto.
Ex.: A minha vontade é esse: que tudo fique bem.
- Esta oração denomina-se Oração subordinada substantiva apostiva.

Existem também as orações subordinadas adverbiais, que denotam condição, causa, circunstância, entre outras possibilidades, e possuem como núcleo um advérbio. Seguem alguns exemplos de orações adverbiais, que desempenham funções de Adjuntos Adverbiais:

1)    Tempo e Espaço: na qual a oração subordinada desempenha a função de Adjunto Adverbial de tempo e/ou espaço.
Ex.: Geovana limpou a janela quando estava no quarto;
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada adverbial temporal.

2)     Causa: na qual a oração subordinada desempenha a função de Adjunto Adverbial de causa.
Ex.: Geovana esqueceu a bolsa, pois não se organizou direito.
- Esta oração denomina-se: Oração subordinada adverbial causal.

3)  Consequência: na qual a oração subordinada desempenha a função de Adjunto Adverbial de conseqüência.
Ex.: Geovana correu tanto que quase passou mal.
                - Esta oração denomina-se: Oração subordinada adverbial consecutiva;



terça-feira, 27 de maio de 2014

Artigo Científico em Poesia Portuguesa: A dramaturgia como instrumento didático e de conscientização popular

Gil Vicente x Bertold Brecht (dramaturgos)

Resumo: Análise da dramaturgia em contextos históricos diversos como base didática e de conscientização popular, focando no trabalho dos dramaturgos Gil Vicente (Portugal) e Bertold Brecht (Alemanha), em específico as obras O Auto da Barca do Inferno e Mãe Coragem e Seus Filhos, respectivamente, através das quais se pode observar elementos e semelhanças de grande expressão para concretização destes objetivos, de forma a chamar atenção pela eficiência no emprego destas manifestações.

Palavras-chave: Dramaturgia; contexto cultural, social, histórico e político ; épocas ; teatro; tipos sociais; ideias; conscientização; símbolos;

Artigo: Apresentaremos um paralelo entre as obras de dois importantes dramaturgos, o português Gil Vicente e o alemão Bertold Brecht , de épocas e contextos culturais bastante diferentes, porém com características peculiarmente semelhantes. Ambos possuíam em suas obras a principal característica de produzir um teatro sócio-político, embasado em ideias, alegorias e realismo, da mesma forma que encaravam a dramaturgia também como uma forma de doutrinar, de ensinar/evidenciar à suas respectivas sociedades, os valores de cada época (ou a falta destes). Selecionamos para ilustrar a análise de suas peças, "O Auto da Barca do Inferno" (Vicente),  produzido em meados do século XVI, na transição da Idade Média para o Renascimento, e "Mãe Coragem e Seus Filhos" (Brecht), escrita em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, duas obras de grande representatividade para seus autores.



Primeiramente, ao averiguarmos os contextos sócio-históricos destas épocas, chegaremos à outras semelhanças, como a inversão de valores e uma sociedade alienada à determinadas ideologias. Comecemos por Gil Vicente: A Europa passava por uma grande mudança com o fim da Idade Média e início do Renascimento, Gil Vicente, por sua vez, se via ligado à muitos conceitos da era anterior, contudo seu teatro era de uma certa forma revolucionário, misturava o profano com o sagrado, elaborando um tipo de teatro de pregação, onde seus personagens caracterizavam tipos sociais específicos, muito bem marcados através de alegorias, esses personagens simbolizavam uma parte da sociedade, sem especificar ou atacar instituições, mas a verossimilhança estava presente com o intuito de instaurar um identificação com o espectador. Em "O Auto da Barca do Inferno", há um julgamento no qual os que não tivessem pecados poderiam seguir na barca da glória, guiada pelo Anjo, enquanto os pecadores seguiriam na barca no inferno, guiada pelo Diabo, a grande maioria dos personagens vão direto para a barca do inferno, com exceção do Parvo e dos quatro cavaleiros, que por sua inocência e coragem, seguem para a barca da glória, pois mesmo que os demais personagens em vida possuíssem dinheiro, status ou posição, estavam sendo julgados por suas atitudes mundanas. Há uma clara alusão aos sete pecados capitais e um intuito de exemplificar aos espectadores o que não fazer, assim como o conceito de que apenas uma vida de virtudes poderia levar as almas ao paraíso, por isso a dramaturgia, mesmo que alegórica, era realista para que houvesse um conscientização real .



Da mesma forma que Gil Vicente, Bertold Brecht também é contemporâneo a uma época de reestruturação cultural, o auge do regime Nazifascista, viveu exilado de seu país, a Alemanha, de 1933 a 1949, este foi um período turbulento e tenebroso para toda a Europa, onde homens se alienavam ao pensamento megalomaníaco e autoritário do regime anti-semitista. É nesse contexto que Brecht, influenciado pelos ideais marxistas, fez de sua dramaturgia uma meio de conscientização da realidade, da mesma forma que as técnicas teatrais desenvolvidas por ele,  como o artifício do distanciamento, que visava denunciar a alienação do espectador, consistia na quebra da quarta parede teatral, esta quebra é como se fosse uma breve fuga de um ou mais personagens do ambiente da peça, para se dirigir direto ao espectador, o que causa um estranhamento que pode ser muito positivo por causar impacto e chamar atenção às questões constantemente abordadas por Brecht, como a miséria, a luta de classes e a importância de todas as camadas da sociedade. Na peça "Mãe Coragem e Seus Filhos", é narrada a história de uma vivandeira que junto aos seus três filhos percorre os locais devastados pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) para vender suprimentos aos sobreviventes, contudo mesmo sobrevivendo às custas das desgraças da guerra, a mãe, tentando poupar seus filhos,  não admite que lutem e sirvam à sua pátria, mesmo com sua relutância, seus três filhos acabam sucumbindo e morrem vítimas da guerra, então a mãe se vê sozinha lutando por sua sobrevivência, sem seus filhos, somente ela e a carroça de alimentos. A peça retrata a incoerência da personagem da mãe, que conhece bem os horrores da guerra, porém mantêm seus filhos alheios a esta realidade a fim de protegê-los, através desta contradição Brecht visava causar indignação nos espectadores e um consequente senso crítico, diferente do que era pautado pelo regime da época.

Por fim, podemos concluir que tanto o teatro brechtiniano quanto o vicentino possuem finalidade didática, de disseminar ideias e conscientizar os espectadores sobre questões políticas e sociais, ambos os dramaturgos utilizam de símbolos e frases de impacto que possibilitam uma assimilação sensorial por parte do público, por meio das figuras de linguagem, das técnicas teatrais ou até mesmo da dispersão e da função dos personagens que, em cena, tomam dimensões inimagináveis. Outro aspecto que chama a atenção é como a dramaturgia destes autores é objetiva e eficaz, pois, sem muitas delongas, chega ao objetivo proposto e causa impactos pertinentes à produção, é interessante observarmos que a grande maioria das encenações das peças citadas não necessitaram de muito cenário, claro que há uma variação muito grande dependendo da direção, mas os textos possuem uma forte significância através das simbologias, sendo elas imagéticas ou lexicais, que criam contextos autossuficientes, produzindo diversidade de encenações e de elementos dramáticos.

                Referências bibliográficas:

                BRECHT, Bertold (2012) Teatro Completo de Bertold Brecht , Ed. Paz e Terra;

                VICENTE, Gil (2013) Auto da Barca do Inferno, Ed. Saraiva;

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Análise do Discurso: O Show de Truman – O Show da Vida




O artigo a seguir tem como objetivo abordar o filme “O Show de Truman: O Show da Vida” dentro da análise do discurso de linha francesa, meditando sobre questões éticas e morais e sobre o papel que a indústria cultural exerce nos dias de hoje.
 Fiorin em seus estudos no livro “Linguagem e Ideologia” refere que não devemos considerar a linguagem algo totalmente desvinculado da vida social nem perder de vista sua especificidade reduzindo-a somente ao nível ideológico, é preciso tentar analisar a linguagem como um todo, um fenômeno extremamente complexo, que é o que ela é, e estudar seus múltiplos pontos de vista, pois pertence a diferentes domínios, ao mesmo tempo em que é individual e social, é física, fisiológica e psíquica, logo basearemos nossa análise, no possível, em todas essas dimensões. 
Segundo o Michel Foucalt em seu livro “A ordem do discurso”:
  “O discurso, longe de ser esse elemento transparente ou neutro [...], por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder”.
Pelo nosso ponto de vista, por trás de uma simples comédia existia um discurso que permitia a introduzir o efeito da nossa realidade. O filme retrata um personagem interpretado por Jim Carrey - Truman fruto de uma gravidez indesejada e adotado legalmente por uma instituição ainda no útero de sua mãe e filmado desde então. Tendo com enredo o paradoxo entre simulação e realidade, beirando do cômico ao dramático o personagem faz parte de um reality show não tendo consciência disso.
Truman é gravado 24 horas por dias durante os sete dias da semana, em uma cidade cenográfica construída em Hollywood, a Ilha de Seahaven com tecnologia de ponta e cinco mil câmeras por toda a sua extensão com um grande elenco.
Temos também o personagem Christof, o televisionário e idealizador do programa que dirigi o reality. O criador do programa afirma que apesar de se tratar de um show de entretenimento, as vivências e as experiências de Truman são reais e sem interferências da produção e do elenco, sem ‘script’. Teria Christof seguido a visão de Guimarães em Semântica do acontecimento: “as personagens se constroem na medida em que se representam uma diante da outra”, acreditamos que isso não seja verdade, já que tudo é controlado, todo o elenco tinha script, roteiros pré-estabelecidos, tendo a interferência constante da direção do programa. Sob um marketing fortíssimo, tudo a cerca de Truman é propaganda e publicidade, das vestes ao alimento, tudo é patrocínio, a artificialidade que cerca Truman é toda a existência da Ilha, dos eventos meteorológicos as frequências de rádio e programas de TV e toda e qualquer relação que o personagem tenha tido.
Tomando como base os discursos constituídos pelas relações sócio-históricas, o sentido duo de acordo com a produção dos discursos, pode-se observar na analogia de Christof a sua atitude que beira a divindade exercida pela igreja, que não se submete a um poder maior, regendo suas normas como quem se baseia na sua criação de razão, na sua apoteose e seus valores de onipotência e onipresença. Podem-se fazer tais observações no comportamento de Christof quando o diretor burla a realidade de Truman para com as pessoas, nas relações que o personagem estabelece, nas cenas em que controla as frequências de rádio remetendo a seus medos e bloqueios, no episódio em que seu suposto pai sofre um suposto afogamento gerando um trauma em Truman com o mar, assegurando que não consideraria a hipótese de atravessar a ponte e sair da ilha e na simulação da tempestade colocando sua vida em risco.
O público sempre anestesiado pela privacidade de Truman ao ponto de ignorar qualquer tipo de empatia pelo personagem, um ser humano induzido à uma redoma de mentiras e interpretações, privado dos direitos mais essenciais. Mas ao contrário disso, quanto mais acesso a privacidade de Truman, mais subia a audiência e com isso, a motivação do capitalismo por parte da produção do reality, que não media esforços para manter a atração à custa da exploração dos dramas. Truman tinha seus medos testados tanto quanto seu emocional e sentimental, sendo assim “prestigiado” pelos expectadores sem qualquer preocupação com os princípios, evidenciado os valores invertidos.
Já o protagonista do drama que vive um roteiro alterado e reescrito por quem detinha o controle, convivia com aquela realidade proposta a ele, seguro de que vivia no melhor ambiente, com a sua estabilidade, mas a sua racionalidade juntamente com alguns deslizes da produção passa a perceber as contradições do seu cotidiano, os figurantes que tentam alerta-lo da realidade, e a partir disso inicia o processo em que o personagem começa a conscientizar-se do mundo a sua volta e também a inércia de sua vida que passa a ser insuportável para Truman, pois seu roteiro não permitia imprevistos.
O filme traz a discussão da soberania da indústria cultural, a função da mídia ao difundir informações e a influência exercida pelo público, e desse modo a estratégia da informação industrializada que se sobrepõe a solidariedade, a moral e a ética.
Christof, assim como os regimes totalitários afirma que deu a Truman uma vida tranquila e dentro de uma normalidade melhor que a própria realidade, e que a ilha criada por ele é a idealização, seria como um modelo de vida perfeita, e dentro dessa argumentação não havia para ele o que se discutir em violação de direitos.
O enredo nos leva a refletir qual a separação entre realidade e ficção, pois antes de Truman desenvolver sua subjetividade acima da realidade imposta, ele acreditava viver uma vida real, trazendo para nossa vivência onde podemos questionar o nosso próprio conceito de verdade e a nossa relativa noção de realidade. No filme, Christof de acordo com a sua própria ideologia afirma: “Nós aceitamos a realidade do mundo que nos é apresentado. É simples assim.”. No livro “Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado”, nos estudos de Louis Althusser, de acordo com a linha de estudo Marxista, afirma:
“A ideologia é uma representação da relação imaginária dos indivíduos com as suas condições de existência [...], fazem alusão à realidade, e que basta interpretá-las para reencontrar, sob a sua representação imaginária do mundo, a própria realidade desse mundo”.
Após vários ocorridos como atores que tentam alertá-lo, erros técnicos decorrentes da rotina, como a cena em que uma das frequências de rádio descreve seus movimentos, a queda do objeto do céu para a ilha e etc, Truman passa a desconfiar que está sendo vigiado e passa a acumular evidencias, adquirindo cada vez mais a certeza de que vivencia uma “realidade” manipulada. Ao lutar contra a ambição autoritária de Christof, e optar pela porta “exit”, Truman opta pela verdade?  Ou por um conceito diferente de verdade? Truman encontrará a liberdade ou apenas outra projeção de “realidade” manipulada por outras concepções ideológicas?
Da mesma forma que a manipulação não se limita ao personagem fictício, mas também aos telespectadores do Reality, pois o entretenimento se faz uma arma poderosa de massificação. A população assistindo ao programa acredita estar em nível superior ao do personagem, e que possuem o controle de suas próprias vidas, quando na verdade as circunstâncias impostas pelo sistema também os fazem personagens de suas próprias vidas, e produto de disseminação de um ideal, através do esquecimento, conforme observado no livro “O Discurso: Estrutura ou acontecimento”, de Michel Pechêux:
“[...] supõe-se que todo sujeito falante sabe do que se fala, porque todo enunciado produzido nesses espaços reflete propriedades estruturais independentes de sua enunciação: essas propriedades se inscrevem, transparentemente, em uma descrição adequada do universo (tal que este universo é tomada discursivamente nesses espaços)”.
Para concluir, podemos observar no filme a intensa relação dos discursos com a realidade. Truman é rodeado e controlado por discursos, assim como os seus telespectadores (a publicidade influenciadora, o discurso novelístico e a mídia), que são influenciados pelas várias possibilidades discursivas como o jogo de efeito e de realidade fica como tema dessas inúmeras vozes presentes no discurso.




Filme relacionado
O Show de Truman – O Show da Vida
Lançamento: 1998
Direção: Peter Weir
Gênero: Drama/Comédia


Referencias Bibliográficas

Fiorin, José Luiz / Atica
Foucault, Michel / LOYOLA
Guimaraes, Eduardo; Guimaraes, Eduardo / PONTES
Althusser, Louis / Editorial Presença-Martins Fontes
Pecheux, Michel / PONTES